sábado, 2 de fevereiro de 2008

O Trauma

Durante o decorrer da semana e principalmente no dia seguinte ao assalto, sentia-me a pessoa mais feliz do mundo, pois sobrevivi a um assalto a mão-armada e violento; mesmo com forte dor no ouvido direito, que permaneceu por dois dias consecutivos, porque o assaltante gritava muito alto, consegui concentrar na necessidade de ir trabalhar e mesmo com medo de entrar no banco trabalhei bem até quarta-feira da semana seguinte, dia 27 de outubro de 2004, em que cheguei ao banco e abri o malote no caixa para colocar o dinheiro na gaveta e observei que havia pouco; automaticamente pensei na possibilidade de haver outro assalto, daí a pergunta: e se o assaltante pedir mais dinheiro? serei eu a enfrentar a situação; o medo tomou conta de mim e a sensação era de perigo o tempo todo, parecia que a qualquer momento entrariam novamente a anunciar outro assalto, o que fazer a não ser pensar em Deus, pedindo coragem, porque é preciso trabalhar, continuei, então, o meu serviço. Após um tempo de atendimento, entrou na agência um homem com olhar firme, usando jaqueta verde musgo, com pasta e capacete pretos, ficou na fila, eu jamais havia visto esse homem na agência uma vez que era para uma clientela específica; então saí correndo em direção ao CPD, onde estavam três colegas, que puderam ver o meu estado de medo e desespero, pois eu chorava, ria e tremia ao mesmo tempo, a única coisa que conseguia falar era: "gente eu não estou bem, eu não sou assim, nunca senti esse medo assim dessa maneira tão desesperadora, o que eu faço?", então relatei o que estava acontecendo e um dos colegas foi verificar, dizendo se tratar de pagamento de várias faturas com cheque de outro banco, de valor muito alto, uma vez que a colega do caixa falou que não poderíamos aceitar uma vez que não era permitido tal operação, o homem retirou-se da agência, pode ser que eu estivesse realmente sismada ou poderia tratar-se de estelionato. Por instantes recordei-me do dia em que retornando ao trabalho após quatro meses em licença maternidade, atendi um cidadão que veio até o caixa pagar uma fatura com cheque do mesmo banco da fatura, olhei pra ele, algo me avisava que teria problemas com essa pessoa, mas como estava afastada e havia acabado de chegar, sendo que em determinadas situações prestávamos esse serviço aos clientes, aceitei, arrisquei, confiei na tentativa de ajudar e depois de alguns dias me "lasquei", tive que pagar o cheque no valor de quase dois mil reais, que havia sido devolvido; por isso que os clientes devem entender o trabalho dos caixas e não insistir em um serviço que não seja autorizado, uma vez que o banco não se responsabiliza. Paguei, assumindo a conseqüência do ato de confiar em uma pessoa e além de pagar materialmente, fui moralmente ofendida pelo presidente do banco, que chamou minha atenção diante de todos os colegas, humilhando e abusando do seu poder de patrão, fiquei triste, mas superei e passei a não confiar mais em ninguém e diante desse quadro de trauma e lembranças traumatizantes, sentia-me pior. Quando uma pessoa erra, está errando na tentativa se acertar, não erra porque deseja e o preconceito a respeito do erro, envolve uma história de vitórias e derrotas da humanidade, com situações de humilhação e maldade; daí pensei "quem será a pessoa pior? o estelionatário que roubou meu dinheiro através de um papel? ou o presidente do banco, que marcou reunião com todos os colaboradores para me humilhar, ameaçar e denegrir minha imagem? o que pensar? talvez pudesse ser uma das inúmeras formas de alimentar o preconceito em relação a maternidade, uma vez que percebia nitidamente que todas as vezes que eu resolvia ter meus filhos, amados, planejados e esperados, sentia o preconceito e a torcida contrária do inconsciente coletivo, principalmente por parte do patrão, mas ainda assim poucas pessoas apoiavam minha opção em ser mãe de mais de dois filhos.

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