sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A Demissão

O laudo psicológico foi entregue ao recursos humanos do banco e dia 5 de novembro de 2004, fui informada que deveria comparecer às 11:00h na sala da diretoria do banco, entrada pela Escola, para assunto de demissão. Mesmo com medo, entrei e constatei que minha demissão estava pronta era só eu assinar. Como se não soubesse de nada o Presidente perguntou o que estava acontecendo, contei tudo que escrevi até agora aqui no blog, ele olhou pra mim e falou "mas é só por isso", como se tudo isso não fosse difícil o bastante pra mim, pra ele é fácil falar porque não é ele que enfrenta o assaltante como os caixas, aliás ele nunca está presente nos assaltos e ainda diz que está tranqüilo porque paga seguro de vida aos funcionários, se alguém morrer a família será indenizada... Após 10 anos prestando serviço ao banco me sentia péssima, porque estava saindo do banco dessa forma, fui acusada de fraca, irresponsável por faltar serviço apenas por medo, tive que ouvir que estava inventando motivo pra sair só pra receber o fundo de garantia, ouvi que o laudo psicológico não tem valor algum, qualquer um que pagar um profissional pega um atestado etc. Ou seja, jamais imaginava que iria passar por tanta humilhação junta, já estava abalada pelo trauma e agora, então, com sérias possibilidades a depressão. Assinei a papelada com lágrimas nos olhos e com o coração apertado aceitei o acordo, onde teria que devolver a multa dos 40% porque o assaltante já tinha levado em torno de dezesseis mil e o banco não tinha como dispor de mais seis mil; ah! e a papelada foi feita com data retroativa como se eu já tivesse cumprido aviso prévio, segundo o presidente, para não ficar feio pra mim; como eu estava fragilizada fui ouvindo tudo em silêncio e não consegui sequer me defender de todas aquelas acusações, então pensei em Deus, pedi força e coragem pra superar a situação e um dia conseguir recuperar minha dignidade, uma vez que o trabalho dignifica o ser humano.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Síndrome do Stress Pós Traumático

Não consegui dormir na noite de quinta-feira, dia 29 de outubro de 2004, sexta-feira, não consegui sequer tomar banho para ir ao trabalho, só chorava e sentia medo de entrar no banco, tinha receio até em ligar pra lá, então liguei pra casa da minha mãe e relatei o que estava acontecendo, disse: "Mãe eu não estou em meu estado normal, estou chorando, sentindo medo, não consigo nem tomar banho, acho que preciso de uma psicóloga, devo estar traumatizada" e contei o que havia acontecido nos dias anteriores, então minha mãe ligou conversou com um dos presidentes do banco, que providenciou uma consulta com Psicóloga, onde contei tudo que havia acontecido desde o dia do assalto até a data da consulta, ela diagnosticou Síndrome do Stress Pós Traumático e passou laudo psicológico dizendo que eu precisava me afastar do banco por uns quatro meses, fazer um tratamento/acompanhamento, para que pudesse retornar as minhas funções de caixa, ou ser transferida a outro setor, assim que houvesse recuperação total, recuperando a confiança na vida e nas pessoas, no trabalho e em mim mesma.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

O Trauma - 2ª parte

Dia 28 de outubro, cheguei ao trabalho e o tesoureiro do banco pediu que eu não abrisse o caixa, uma vez que a folha de pagamento dos professores havia chegado e eu teria que lançar nas contas correntes respectivamente; gostei, pois, como estava muito sensibilizada e sentido medo, seria bom não abrir o caixa e ficar correndo risco, esse era o meu pensamento naquele instante ser caixa era se arriscar e ficar a mercê de assaltantes etc. Fui para o CPD e enquanto digitava a folha de pagamento, de repente olhei para o relógio e os ponteiros marcavam 12:45 h, então começou o transtorno novamente, atordoando minha mente, comecei olhar para o vídeo onde fica aparecendo as imagens da porta giratória e dos caixas, esse era o horário aproximado do assalto, fui entrando em desespero, uma voz surgia dominando meus pensamentos, dizendo "eles vão entrar, vai ter assalto, vai ter assalto"; como essa situação não passava, resolvi ir até a copa tomar água, assim que cheguei haviam dois colegas, falei o que estava acontecendo comigo e um deles falou que eu estava impressionada com o assalto que foi violento; senti tontura e falta de ar, perda de equilíbrio, era como se minha cabeça inchasse e pesasse para trás, fui até o setor médico da Escola, a pressão estava normal e quando retornei pela porta dos fundos do banco, não conseguia entrar, sentia medo, avançava um passo, voltava dois, nesse momento percebi a presença de uma jovem que não usava uniforme e dizia estar apenas conhecendo a Escola, só que ali era só a porta dos fundos do banco, não tinha nada de interessante, daí que não consegui entrar, porque comecei a pensar que talvez ela estivesse com algum assaltante, ou observando como é a entrada dos fundos para outro assalto etc. Fiquei ainda mais descontrolada, tentei entrar no banco mas não conseguia ter coragem, duas colegas me levaram para sala de reuniões e fizeram prece com as mãos dadas e impostas, como o medo persistia levaram-me para casa, fora do banco estava tudo bem o problema era permanecer dentro dele e como fazer para ir trabalhar no dia seguinte?

sábado, 2 de fevereiro de 2008

O Trauma

Durante o decorrer da semana e principalmente no dia seguinte ao assalto, sentia-me a pessoa mais feliz do mundo, pois sobrevivi a um assalto a mão-armada e violento; mesmo com forte dor no ouvido direito, que permaneceu por dois dias consecutivos, porque o assaltante gritava muito alto, consegui concentrar na necessidade de ir trabalhar e mesmo com medo de entrar no banco trabalhei bem até quarta-feira da semana seguinte, dia 27 de outubro de 2004, em que cheguei ao banco e abri o malote no caixa para colocar o dinheiro na gaveta e observei que havia pouco; automaticamente pensei na possibilidade de haver outro assalto, daí a pergunta: e se o assaltante pedir mais dinheiro? serei eu a enfrentar a situação; o medo tomou conta de mim e a sensação era de perigo o tempo todo, parecia que a qualquer momento entrariam novamente a anunciar outro assalto, o que fazer a não ser pensar em Deus, pedindo coragem, porque é preciso trabalhar, continuei, então, o meu serviço. Após um tempo de atendimento, entrou na agência um homem com olhar firme, usando jaqueta verde musgo, com pasta e capacete pretos, ficou na fila, eu jamais havia visto esse homem na agência uma vez que era para uma clientela específica; então saí correndo em direção ao CPD, onde estavam três colegas, que puderam ver o meu estado de medo e desespero, pois eu chorava, ria e tremia ao mesmo tempo, a única coisa que conseguia falar era: "gente eu não estou bem, eu não sou assim, nunca senti esse medo assim dessa maneira tão desesperadora, o que eu faço?", então relatei o que estava acontecendo e um dos colegas foi verificar, dizendo se tratar de pagamento de várias faturas com cheque de outro banco, de valor muito alto, uma vez que a colega do caixa falou que não poderíamos aceitar uma vez que não era permitido tal operação, o homem retirou-se da agência, pode ser que eu estivesse realmente sismada ou poderia tratar-se de estelionato. Por instantes recordei-me do dia em que retornando ao trabalho após quatro meses em licença maternidade, atendi um cidadão que veio até o caixa pagar uma fatura com cheque do mesmo banco da fatura, olhei pra ele, algo me avisava que teria problemas com essa pessoa, mas como estava afastada e havia acabado de chegar, sendo que em determinadas situações prestávamos esse serviço aos clientes, aceitei, arrisquei, confiei na tentativa de ajudar e depois de alguns dias me "lasquei", tive que pagar o cheque no valor de quase dois mil reais, que havia sido devolvido; por isso que os clientes devem entender o trabalho dos caixas e não insistir em um serviço que não seja autorizado, uma vez que o banco não se responsabiliza. Paguei, assumindo a conseqüência do ato de confiar em uma pessoa e além de pagar materialmente, fui moralmente ofendida pelo presidente do banco, que chamou minha atenção diante de todos os colegas, humilhando e abusando do seu poder de patrão, fiquei triste, mas superei e passei a não confiar mais em ninguém e diante desse quadro de trauma e lembranças traumatizantes, sentia-me pior. Quando uma pessoa erra, está errando na tentativa se acertar, não erra porque deseja e o preconceito a respeito do erro, envolve uma história de vitórias e derrotas da humanidade, com situações de humilhação e maldade; daí pensei "quem será a pessoa pior? o estelionatário que roubou meu dinheiro através de um papel? ou o presidente do banco, que marcou reunião com todos os colaboradores para me humilhar, ameaçar e denegrir minha imagem? o que pensar? talvez pudesse ser uma das inúmeras formas de alimentar o preconceito em relação a maternidade, uma vez que percebia nitidamente que todas as vezes que eu resolvia ter meus filhos, amados, planejados e esperados, sentia o preconceito e a torcida contrária do inconsciente coletivo, principalmente por parte do patrão, mas ainda assim poucas pessoas apoiavam minha opção em ser mãe de mais de dois filhos.